Bruno Rodrigues

UX writing não é só microcópia e redação

Suzana Ribeiro
5 min readOct 14, 2019

Por Suzana Ribeiro e Cláudia Casanova

Estamos muito felizes por estrear nossa nova empreitada, a série “Conversas sobre UX Writing” com um profissional que admiramos demais. Afinal, é impossível trabalhar com comunicação digital no Brasil e não esbarrar com pelo menos uma menção à Bruno Rodrigues. Ele é, atualmente, o maior especialista no assunto no país. Autor de três livros sobre webwriting, ajudou a definir os rumos da informação no ambiente digital. Agora, lança também sua tese de mestrado em forma de e-book, desta vez sobre UX Writing. Nesse bate-papo, falamos sobre o momento atual e os rumos da profissão, como se especializar e muitas outras dicas. Não perca, que está uma delícia!

UXW_BRConta para a gente como você vê esse momento atual, em que o profissional de texto vem ganhando destaque nos times de produto. Por que você acha que só nos últimos tempos a sua importância começou a ser percebida pelo mercado?

Bruno Rodrigues — Isso aconteceu no mundo inteiro. De uns 4 anos para cá, o público começou a bater na porta das marcas dizendo “olha só, a gente quer uma comunicação muito mais objetiva dos produtos digitais, sites portais, aplicativos, chatbots, assistentes de voz e etc. Palavras e expressões muito diretas passaram a ser o objetivo do público. Então as empresas e agências começaram a cobrar mais dos designers e desenvolvedores, profissionais que não tem nem formação, nem skills de redação. Embora eles já quebrassem esse galho há anos, o volume aumentou a ponto de muitos começarem a sinalizar que eles não eram as pessoas ideais para isso. Então as empresas começaram a abrir as portas para o UX Writer.

UXW_BR — A procura por UX Writers aumentou, mas a oferta de profissionais também. Que conselho você daria para quem quer se destacar na busca por emprego na área?

BR — Às vezes ouço um discurso que não acho muito legal, que é o de “eu já trabalhava com UX writing há anos e não sabia” porque isso acaba desvalorizando um módulo novo dentro de redação, que tem peculiaridades e características próprias.

A escrita tem pelo menos 3 degraus: o copywriting, que é a redação publicitária, o webwriting, que é a redação de textos corridos para sites e portais, e o UX Writing, que é a escolha de palavras e expressões para incluir em produtos digitais, como aplicativos, chatbots, design instrucional, após um mergulho semântico oral e escrito no campo dos usuários. É um universo imenso todo novo.

Outra coisa importante é entender que o UX Writing não é só microcópia e redação. Ele mergulha na semântica, na arquitetura da informação e usabilidade em textos… Micro-redação é uma parte pontual. Qual a empresa que vai querer manter um profissional cuja única atribuição é manter palavrinhas que vem da cabeça e da experiência dele?

Isso não se sustenta. Portanto, meu conselho é fazer cursos de extensão — já existem vários. Mas não esperem curso de graduação ou MBA porque não tem tanto assunto assim. Ainda não é uma carreira por si só, tem que esperar um pouco para ver o que vai acontecer.

UXW_BR — Tem algum case que você acha muito legal para mostrar o valor do UX Writing?

BR — Eu acho complicado usar cases, porque só vale mencionar quando é da sua empresa e você testou. O real case de sucesso é aquele que você testa com seus usuários antes de colocar no ar ou quando já foi para o ar. Pegar do coleguinha para justificar o valor do UXW é muito complicado porque o bom UXW é o que você mergulha no campo semântico do público para entender como ele fala e escreve. E cada público, de acordo com cada perfil de mercado, escreve e fala de uma maneira diferente.

Por isso, só dá certo pegar casos de outras empresas se for um público muito parecido com o seu, ou de uma empresa que atue num mercado muito parecido com o seu. Senão você acaba comparando alhos com bugalhos.

Na minha opinião, o que dá certo mesmo é sentar com designers, desenvolvedores, com a equipe de UX e com profissionais que não são redatores, e explicar os benefícios do UXW com toda a calma do mundo. Isso tem dado certo comigo e com muitos colegas, mas tem que ter paciência. Ninguém tem obrigação de saber o que é nem quais os benefícios do UXW. O mercado é novo e a gente tem a obrigação de explicar, sim.

UXW_BR — Qual a principal dica que você dá para o UX Writter que precisa testar seu conteúdo, mas está sem orçamento para isso?

BR — Bom, o ideal é tentar formar um grupo de pessoas — da própria empresa, amigos — mesmo que não tenham o perfil do usuário e testar, pegar ideias. Melhor fazer com poucos do que com ninguém, né?

UXW_BR — O conteúdo digital já passou por diferentes fases desde os primórdios da internet até chegar a este momento em que a produção centrada no usuário é essencial. Para onde vamos agora? Já identificou alguma nova tendência para os próximos anos?

BR — É difícil prever porque o UXW é uma disciplina ainda muito nova. Mas eu acredito que o texto corrido, por conta de interfaces móveis, começa a entrar “em extinção” Cada vez mais o público exige uma objetividade em interfaces e por isso a palavra e expressão, e não o texto corrido, tomam a frente no processo de comunicação textual.

UXW_BR — Conta um pouco sobre seu novo livro! Como surgiu a ideia e o que podemos esperar encontrar nele?

BR — O livro foi meu projeto de mestrado, defendi em julho desse ano. Demorei um ano e meio pesquisando, foi um mergulho profundo no mercado brasileiro de UXW — embora eu tenha conversado com bastante gente lá de fora também. Não é um manual de UXW, até porque o nome dele é “Em busca de boas práticas de UX Writing”. E, alerta de spoiler: eu não encontrei boas práticas ainda!

O livro é resultado de muita teoria e pretende dar fundamentação para a argumentação da defesa do valor do UXW, além de fazer um panorama do que ele é, em detalhes, e como ele está crescendo. Fala de semântica, arquitetura da informação, usabilidade, comunicação digital e marketing em geral para inserção nessa área, e um pouco de webwriting e copywriting… é um material em que eu junto teoria e prática com o objetivo de fundamentar argumentações. Foi lançado exclusivamente na Amazon, e já está disponível para download.

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